
Durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets nesta semana, o delegado Lucimério Barros Campos, da Polícia Civil de Alagoas, revelou detalhes de um sofisticado esquema envolvendo influenciadores digitais e sites ilegais de apostas esportivas. Segundo o delegado, esses influenciadores são contratados por plataformas clandestinas para enganar internautas, simulando ganhos fictícios e atraindo apostadores para o mercado ilegal.
Influenciadores e contas falsas
De acordo com Campos, responsável pela Operação Game Over, os sites ilegais fornecem aos influenciadores contas “demo” (de demonstração), que permitem simular grandes prêmios em vídeos e transmissões. Esses conteúdos são divulgados nas redes sociais, induzindo seguidores a acreditar que é possível conseguir lucros fáceis e rápidos. Na realidade, os ganhos apresentados são falsos e o dinheiro recebido pelos influenciadores vem diretamente das casas de apostas, e não das apostas em si.
O delegado apresentou à CPI áudios e vídeos que comprovam a prática, destacando que muitos apostadores acabam perdendo grandes somas de dinheiro após serem atraídos por essas promessas irreais.
Esquema financeiro
Campos explicou que os sites clandestinos utilizam intermediadoras de pagamento, como fintechs, para receber os valores via Pix dos apostadores. Essas intermediadoras não são instituições financeiras reguladas, o que dificulta o bloqueio de bens e o rastreamento das operações. Só em Alagoas, a investigação identificou cerca de R$ 15 milhões movimentados em apostas ilegais desde o início de 2025.
O delegado alertou que essa atividade retira dinheiro da economia local, enviando recursos para fora do país e prejudicando milhares de famílias brasileiras.
Publicidade predatória e necessidade de regulação
Para o delegado, a publicidade feita por influenciadores e sites ilegais é “predatória”, atingindo especialmente pessoas em situação de vulnerabilidade financeira. Ele defendeu a criação de leis mais rígidas para responsabilizar tanto as plataformas quanto os influenciadores por crimes contra a ordem econômica e a economia popular, além de uma regulamentação mais clara para a publicidade das casas de apostas, inclusive as legalizadas.
Campos destacou que, sem regulação adequada, a atividade continuará sendo predatória e colocando em risco a saúde financeira dos brasileiros: “Se não houver uma regulação adequada desse tipo de atividade, pela voracidade desse tipo de atividade, estamos falando de atividade predatória, que traz um risco muito importante à saúde dos brasileiros”.
Propostas e próximos passos
A CPI das Bets discute atualmente projetos de lei para criminalizar a promoção de apostas ilegais, com penas mais severas para quem direcionar publicidade a crianças e pessoas vulneráveis. Parlamentares também defendem a proibição total da publicidade de apostas em moldes semelhantes aos adotados para álcool e cigarro, além do fortalecimento da fiscalização sobre influenciadores digitais.
Como isso afeta você?
Se você é apostador ou acompanha influenciadores digitais, fique atento: desconfie de promessas de ganhos fáceis e sempre verifique se a plataforma de apostas é regulamentada. A atuação de influenciadores em esquemas ilegais pode causar prejuízos financeiros e até envolvimento em crimes.